Dia desses peguei carona numa postagem do Facebook, onde uma senhora reclamava veementemente que seu marido havia lhe dado de presente no dia das mãe uma Air Fryer.
Chego a duvidar que alguém não saiba o que é uma Air Fryer pois temos uma aqui em casa e depois dela, minha querida Amanda tornou-se uma “quase-chefe”, digna de ser convidada para o programa da Ana Maria Braga.
Quando começamos a namorar a Amanda não sabia nem fazer café, hoje, depois da Air Fryer ela elabora uns pratos realmente gostosos, a partir de produtos básicos semi-preparados, comprados no Pão de Açúcar.
Fica tudo muito bom e eu recomendo para qualquer um que não seja um gourmet, como eu não sou.
Lembro-me ainda, que quando eu tinha uns dez anos, meu pai perguntou para minha mãe o que ela queria de presente no dia das mães e ela pediu uma processadora, seja lá o que fosse essa coisa, que para mim parecia um liquidificador. Minha mãe usou por muito tempo a engenhoca até que eles se desquitaram e ela definitivamente desistiu do meu pai, da processadora, do forno e do fogão.
Mas até onde eu sei, presente é aquilo que nos é útil e o presente que mais uso, de todos o que a Amanda me deu é uma cafeteira Dolce Gusto da Arno.
Não sei se você imagina meu prazer em fazer meu próprio café expresso a qualquer hora, sem ter que seguir receitas, sujar a cozinha toda e descobrir finalmente que o café ficou fraco ou frio. Praticamente todas as vezes que eu faço o café lembro que a cafeteira foi presente da Amanda e quando ela está por perto faço com que ela saiba o prazer que ela me proporciona.
Encerrei meu aprendizado na cozinha depois de fazer barbaridades com uma pipoca e queimar os braços ao tentar fazer um chá de saquinho, ambos no micro-ondas.
Hoje nem olho para ele e tenho que esperar uns dez minutos que o sorvete descongele em cima da pia para poder tirar da embalagem. Micro-ondas assassino nunca mais, só opero a Dolce Gusto.
Mas voltando ao presente que a Amanda me deu nesse dia dos namorados, tenho que confessar que depois de dezessete anos juntos tenho certa prática em saber o que ela pretende a partir da primeira frase. Ainda assim esse ano ela me surpreendeu.
Dias antes da data festiva, ela veio com aquela conversinha a respeito das minhas lembranças da infância e da juventude e eu contei a ela mais algumas passagens da minha tumultuada estada de dois anos de internato no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora de Campinas.
Contei como eu fugi várias vezes e embarcava sozinho e clandestinamente nos ônibus da Cometa (eu tinha quatorze anos), contei que para voltar ao colégio eu chantageava meu pai e assim consegui meu primeiro gravador de fitas de rolo Geloso e minha segunda moto uma Leonette de 50cc.
Contei que a comida no internato não era das melhores e que minha mãe levava todas as semanas bolachas, chocolates, queijos e enlatados para complementar as refeições.
Tive que explicar o que era uma fiambrada pois ela nunca havia visto ou ouvido falar e acreditamos que isso não era mais produzido.
Fiambrada para quem não sabe, é uma mistura de várias carnes únicas ou misturadas, que vêm numa lata diferente, com um dos lados maior que o outro para facilitar a retirada sem que saia em pedaços etc.
Não foram poucas as aventuras que eu tive naquele colégio interno e tenho muitas lembranças, a maioria péssimas, principalmente porque além das férias a gente só tinha duas saídas, uma na Semana Santa e outra na Semana da Pátria e eu por mau comportamento perdi todas durante todo o tempo.
Bem, mas voltando às boas lembranças e aos excelentes presentes que a Amanda me dá sempre, nesse dia dos namorados ela me deu um embrulhinho bem-feito com um cartão.
No cartão, como de costume, lindas palavras e abrindo o pacote tive a grata surpresa de descobrir uma legitima fiambrada de R$4,80.
Amanda não quis nem experimentar, mas eu estou amando!