ILUSTRANDO:
COMO É A SÍNDROME DO PÂNICO
Você
pode imaginar o que é sentir isto ?
“De
repente os olhos embaçaram, eu fiquei tonto, não conseguia
respirar, me sentia fora da realidade, comecei a ficar com pavor
daquele estado, eu não sabia aonde ia parar, nem o que estava
acontecendo…”
” …era
uma coisa que parecia sem fim, as pernas tremiam, eu não conseguia
engolir, o coração batendo forte, eu estava ficando cada vez mais
ansiosa, o corpo estava incontrolável, eu comecei a transpirar, foi
horrível…”
“Depois
da primeira vez eu comecei a temer que acontecesse de novo, cada
coisa diferente que eu sentia e eu já esperava… ficava com medo,
não conseguia mais me concentrar em nada… deixei de sair de casa,
eu não conseguia nem ir trabalhar.”
“Quando
começa eu já espero o pior, “aquilo” é muito maior do que eu,
o caos toma conta de mim, é como uma tempestade que passa e deixa
vários estragos… principalmente eu me sinto arrasada. Eu sempre
fico com muito medo de que aquilo ocorra de novo… minha vida virou
um inferno.”
Por
estes relatos, que poderiam ser de diferentes pessoas que sofrem de
Síndrome do Pânico, é possível identificar o grau de sofrimento
e impotência que estas pessoas sentem ao passar pelas crises.
A
pessoa sente como se estivesse algo muito errado em seu corpo, que se
comporta de modo muito “estranho“, “louco“. Porém os exames
clínicos não detectam nada de anormal com seu organismo.
Como
entender?
Nas
crises de Pânico o corpo reage como se estivesse frente a um perigo,
porém não há nada visível que possa justificar a reação.
A
pessoa reage com ansiedade frente às sensações de seu próprio
corpo, há um estranhamento e um grande susto em relação ao que é
sentido dentro da pele. Num Ataque de Pânico o perigo vem de dentro.
Com
a repetição as crises surge um medo de ter novos ataques de pânico,
uma ansiedade antecipatória.
É
comum a pessoa começar a restringir sua vida a um mínimo, limitando
toda forma de estimulação para tentar evitar que “aquilo volte”.
Assim a pessoa pode evitar sair de casa, evita lugares e atividades,
privando-se de muitas experiências. Esta evitação começa a
comprometer sua vida pessoal e profissional.
Vamos
compreender o que acontece e como se pode sair desta armadilha.
O
QUE É SÍNDROME DO PÂNICO ?
A
Síndrome do Pânico é um transtorno psicológico caracterizada pela
ocorrência de inesperados crises de pânico e por uma expectativa
ansiosa de ter novas crises.
As
crises de pânico – ou ataques de pânico – consistem em períodos
de intensa ansiedade, geralmente com início súbito e acompanhados
por uma sensação de catástrofe iminente. A freqüência das crises
varia de pessoa para pessoa e sua duração é variável, geralmente
durando alguns minutos.
No
geral, as crises de pânico apresentam pelo menos quatro dos
seguintes sintomas: taquicardia, falta de ar, dor ou desconforto no
peito, formigamento, tontura, tremores, náusea ou desconforto
abdominal, embaçamento da visão, boca seca, dificuldade de engolir,
sudorese, ondas de calor ou frio, sensação de irrealidade,
despersonalização, sensação de iminência da morte.
Há
crises de pânico mais completas e outras menores, com poucos
sintomas.
Geralmente
as crises ou ataques de pânico se iniciam com um disparo inicial de
ansiedade, que logo ativa um medo das reações que ocorrem no corpo.
Nesta hora surgem na mente uma série de interpretações negativas
sobre o que está ocorrendo, sendo bastante comuns quatro tipos de
pensamentos catastróficos: de que a pessoa está perdendo o
controle, que vai desmaiar, que está enlouquecendo ou que vai
morrer.
No
intervalo entre os ataques a pessoa costuma viver na expectativa de
ter uma novo ataque. Este processo, denominado ansiedade
antecipatória, leva muitas pessoas a evitarem certas situações e a
restringirem suas vidas.
A
Classificação Diagnóstica
O
Transtorno do Pânico é reconhecido pela Organização Mundial de
Saúde (OMS) como um Transtorno Mental, constando da sua
Classificação Internacional de Doenças (CID 10). No DSM
(Diagnostic and Statistical of Mental Disorders) da Associação
Americana de Psiquiatria o Transtorno do Pânico faz parte dos
Transtornos de Ansiedade juntamente com a Agorafobia, a Fobia Social,
a Fobia Específica, o Transtorno de Ansiedade de Separação e o
Transtorno de Ansiedade Generalizada (DSM5 – 2013).
Enquanto
nas Fobias Simples, por exemplo, a pessoa teme uma situação ou um
objeto específico fora dela, como fobia de altura, na Síndrome do
Pânico a pessoa teme o que ocorre em seu próprio corpo, como se
suas reações fossem perigosas.
As
pessoas com agorafobia também podem apresentar ataques de pânico. A
agorafobia é um estado de ansiedade relacionado a estar em locais ou
situações onde escapar ou obter ajuda poderia ser difícil caso a
pessoa tenha um ataque de pânico. É mais comum ocorrer em espaços
abertos, em ambientes cheios de gente, em lugares pouco familiares e
quando a pessoa se afasta de casa. Pode incluir situações como
estar sozinho, estar no meio de multidão, estar preso no trânsito,
dentro do metrô, num shopping, etc.
As
pessoas que desenvolvem agorafobia geralmente se sentem mais seguras
com a presença de alguém de sua confiança e acabam elegendo alguém
como companhia preferencial. Este acompanhante funciona como um
“regulador externo” da ansiedade, ajudando a pessoa a se sentir
menos vulnerável a uma crise de pânico.
QUESTÕES
ESSENCIAIS
O
Início das Crises de Pânico
A
ansiedade é uma reação emocional natural que ocorre quando a
pessoa ser vulnerável e na expectativa de um perigo. Quando a
resposta emocional de ansiedade é muito intensa e repentina ocorre
uma crise de pânico, com uma sensação de catástrofe iminente.
Qualquer
pessoa está sujeita a uma eventual crise de pânico, quando exposta
a um estresse muito alto, quando inundada por emoções internas ou
vivendo situações que a leve a se sentir muito vulnerável e
desamparada. Esta reação faz parte do espectro normal de reações
emocionais, apesar de não ser frequente. Assim, muitos indivíduos
tem uma crise de pânico isolada, sem desenvolver um padrão de
crises repetidas que caracteriza a Síndrome do Pânico.
Na
Síndrome do Pânico, a partir de uma crise inicial de pânico a
pessoa começa a apresentar crises repetidas, sentindo-se muito
insegura e temendo a ocorrência de novas crises.
Há
alguns fatores que levam uma pessoa a desenvolver este padrão
repetitivo de crises que caracteriza a Síndrome do Pânico.
Pesquisas
mostram que eventos difíceis que ocorreram nos últimos dois anos da
vida podem contribuir para desencadear as crises de pânico. Os
eventos podem ser de vários tipos como separação, doença, perdas,
violência, traumas, crises existenciais, crises profissionais,
mudanças importantes na vida etc.
Estes
eventos acentuam o estado de vulnerabilidade para uma pessoa
desenvolver Síndrome do Pânico.
Outros
fatores também podem tornar uma pessoa mais vulnerável a
desenvolver um Transtorno de Pânico, como ter nascido com um
temperamento mais ansioso, ter tido ansiedade de separação na
infância, ter sido criado por pais ansiosos, etc.
Um
fator importante para o desenvolvimento do Pânico é que estas
pessoas geralmente têm falhas no processo de auto-regulação
emocional, ficando ansiosas e não sabendo como se acalmar.
Geralmente
as primeiras crises de pânico acabam sendo vividas como uma
experiência traumática. Quando dizemos que uma experiência foi
traumática, significa que ela fica registrada num circuito
específico de memória emocional (“memória implícita”) que
passa a disparar a mesma reação automaticamente, sem a participação
da consciência. Sempre que aparecem algumas reações similares no
corpo inicia-se uma nova crise de pânico.
A
combinação destes fatores contribui para que alguém venha
desenvolver Síndrome do Pânico.
Medo
das Reações do Corpo
Na
Síndrome do Pânico, várias reações do corpo que estavam
presentes nos primeiros ataques de pânico ficam associadas a perigo
e passam, a partir daí, a funcionar como disparadores de novas
crises.
Geralmente
as crises de pânico se iniciam a partir de um susto – consciente
ou não – em relação a estas reações. Sempre que as reações
do corpo reaparecem, dispara-se automaticamente ansiedade e pode se
iniciar uma crise de pânico.
As
reações corporais temidas podem ser variadas como as batidas do
coração, falta de ar, tontura, formigamento, enjoo, escurecimento
da visão, fraqueza muscular etc.
Numa
crise de pânico a pessoa reage frente aquilo que seu cérebro
interpreta como um perigo. Não há um perigo real, apenas uma
hiperativação do circuito do medo que dispara um alarme na presença
de algumas reações corporais que ficaram associadas a perigo.
A
presença destes gatilhos corporais pode disparar ansiedade mesmo
quando a pessoa não tem consciência deles. Pesquisas apontam, por
exemplo, que numa crise de pânico noturna, reações corporais que
ficaram associadas a perigo surgem com a pessoa ainda dormindo e
disparam uma reação de ansiedade que acorda a pessoa, muitas vezes
já tendo uma crise. Enfraquecer esta associação reações do
corpo-perigo, que dispara uma crise de pânico é um dos focos do
tratamento.
É
comum a pessoa viver ansiosamente o que poderia ser vivido como
sentimentos diferenciados. Numa situação que poderia despertar
alegria, a pessoa se sente ansiosa; numa situação que provocaria
raiva ela também se sente ansiosa. Qualquer reação interna ou
sentimento mais intenso pode disparar reações de ansiedade.
A
pessoa faz constantes interpretações equivocadas e catastróficas
de suas reações e sensações corporais, achando que vai ter um
ataque cardíaco, que está doente, que vai desmaiar, que vai morrer,
etc.
Esta
perda de discriminação da paisagem interna compromete seriamente a
vida da pessoa, pois esta se sente ameaçada constantemente por suas
próprias sensações corporais. O corpo passa a ser a maior fonte de
ameaça. Perder a confiança no funcionamento do corpo produz a um
sentimento de extrema vulnerabilidade.
Curto-circuito
Corpo-Emoção-Pensamento
Podemos
identificar a emoção de medo/ansiedade ocorrendo em três níveis:
– como
reações fisiológicas: alterações nos batimentos cardíacos, na
pressão sanguínea, hiperventilação, suor, etc
– como
reações emocionais: ansiedade, medo, apreensão, desamparo,
desespero etc
– como
reações cognitivas: preocupação, pensamentos negativos,
ruminações etc
O
estado emocional de ansiedade produz reações fisiológicas como
taquicardia e respiração curta, por exemplo. A pessoa com Pânico
tende a interpretar estas reações como perigosas – sinal de
doença, de catástrofe iminente, etc. Estas interpretações, na
forma de pensamentos catastróficos, acabam por produzir mais
ansiedade, o que por sua vez aumenta ainda mais as reações
fisiológicas …. reforçando assim os pensamentos catastróficos.
Cria-se
assim um curto-circuito infindável onde as reações fisiológicas
naturais de medo/ansiedade são interpretadas equivocadamente como
perigosas, o que acaba por produzir mais ansiedade, que por sua vez
alimenta os pensamentos catastróficos, num processo sem fim.
Enquanto a pessoa não interromper este curto-circuito ela não
consegue se livrar das crises de pânico.
Prisioneiro
do Futuro
A
ansiedade é uma emoção de expectativa de perigo, de uma ameaça
que pode ser difusa, não claramente identificada. A mente ansiosa
acaba imaginando cenários, se projetando em situações sentidas
como potencialmente ameaçadoras: “e se… e se acontecer… eu vou
passar mal…”.
O
estado de ansiedade leva a automatismos no processo de atenção e
pensamento. A atenção passa a se deslocar descontroladamente,
monitorando o corpo e o ambiente em busca de algo que possa
representar perigo. O enfraquecimento da capacidade de controle
voluntário da atenção está relacionado à dificuldade de
concentração frequentemente relatada pelas pessoas ansiosas.
Sob
ansiedade a mente é tomada por um fluxo intenso de preocupações,
pensamentos negativos e ruminações e há pouco domínio da mente.
Assim,
o ansioso vive boa parte do tempo tomado de expectativa ansiosa e tem
dificuldade de se sentir presente e inteiro no momento atual.
Neste
contexto, criar presença e fortalecer a atenção são focos
importantes no tratamento.
Os
Dois Processos de Regulação Emocional
O
ser humano dispõe de dois processos básicos de regulação
emocional: auto-regulação e regulação pelo vínculo.
Através
do processo de auto-regulação emocional podemos regular o nosso
próprio estado interno, nos acalmando, nos contendo, nos motivando
etc.
Através
do processo de regulação pelos vínculos, podemos influenciar
reciprocamente a fisiologia e os afetos um do outro e assim podemos
nos acalmar e nos regular nos relacionamentos com pessoas de nossa
confiança. Os dois processos são normais, necessários e
importantes ao longo da vida.
Nas
pessoas que desenvolvem Síndrome do Pânico encontramos problemas
nestes dois processos, tanto uma precária capacidade de
auto-regulação como um enfraquecimento nos processos de regulação
pelos vínculos, muitas vezes decorrentes de traumas de
relacionamentos e ansiedades infantis que se reatualizam.
Tomada
pela ansiedade nas crises, mas também num grau menor no período
entre as crises, a pessoa com pânico não sabe como apagar o fogo
que arde dentro de si. Daí a importância de desenvolver bem os
processos de auto-regulação e de regulação pelo vínculo.
Os
Processos de Auto-Regulação
A
qualidade da relação com a própria excitação interna começa a
se moldar nas experiências precoces de vida. Inicialmente a mãe
ajuda a regular o corpo da criança até que o corpo um pouco mais
maduro possa se auto-regular. Observa-se que nas pessoas com Síndrome
do Pânico esta função não está bem desenvolvida e a pessoa
sente-se facilmente ansiosa e vulnerável frente as reações que
dominam o seu corpo.
É
comum, por exemplo, as pessoas que desenvolvem algum transtorno de
ansiedade terem tido mães ansiosas, emocionalmente hiper-reativas,
que ao invés de acalmarem a criança, a deixavam mais assustadas a
cada pequeno incidente, como um tropeção ou um simples resfriado.
Experiências
de vida desde a infância precoce podem atrapalhar o desenvolvimento
da capacidade de auto-regulação, tornando uma pessoa com baixa
tolerância à excitação interna. Isto aumenta a vulnerabilidade da
pessoa aos transtornos ansiosos como a Síndrome do Pânico.
Muitas
pessoas com Pânico costumam solicitar a presença constante de
alguém para que se sintam mais seguras. Buscam compensar a sua
dificuldade de auto-regulação através de uma regulação pelo
vínculo.
Dois
Níveis do Vínculo: Contato e Conexão
Quando
duas pessoas estão conversando, elas estão em contato, mas não
necessariamente em conexão. Contato é uma interação de presença,
que pode ser superficial, enquanto conexão é uma ligação profunda
que ocorre mesmo quando as pessoas estão distantes. Duas pessoas
podem estar em contato, conversando, mas com baixíssima conexão,
como numa situação social formal. Por outro lado, duas pessoas
podem estar fisicamente distantes, e portanto sem contato, mas se
sentirem conectadas.
Esta
distinção entre contato e conexão é muito importante para
compreender o que ocorre na situação que produz as crises de
pânico.
Muitas
pessoas relatam não ter crises de Pânico enquanto estão
acompanhadas de alguém confiável. Porém, isto é verdadeiro
enquanto elas se sentem conectadas com esta pessoa. Quando a outra
pessoa está ao lado – portanto em contato – mas sem conexão
emocional, a crise de Pânico pode se instalar com mais
probabilidade. Algumas pessoas chegam a relatar a sensação de perda
a conexão com o outro antes de uma crise de pânico eclodir.
A
pessoa com pânico geralmente conhece a sensação de “estar
ausente”, desconectada, se sentindo distante mesmo de quem está ao
seu lado.
A
conexão com o outro parece prevenir crises de ansiedade por oferecer
uma proteção através do vínculo, uma garantia que protege da
sensação de desamparo e vulnerabilidade. Nesta situação, o corpo
da pessoa confiável funciona como um “assegurador do funcionamento
normal do corpo” da pessoa com pânico. Na ausência da conexão
com o outro, o corpo poderia se desregular e a sensação de pânico
aparecer.
Regulação
pelo Vínculo
A
regulação pelo vínculo ocorre, por exemplo, quando a mãe acalma a
criança assustada, pegando-a no colo, dirigindo-lhe palavras num tom
de voz sereno, ajudando deste modo a diminuir a ansiedade e a
agitação da criança. Este processo envolve o estabelecimento de um
vínculo com uma comunicação profunda de estados emocionais, com
conexão e não apenas contato.
É
comum as pessoas que desenvolvem Pânico terem tido experiências
vinculares traumáticas, que podem envolver perdas, rompimentos,
abandono, etc. Estes traumas prejudicaram a capacidade da pessoa
estabelecer e manter conexões emocionais profundas, fator essencial
para a regulação emocional pelo vínculo.
Assim
a pessoa pode algumas vezes se sentir protegida com a presença de
alguém de sua confiança, mas acaba voltando ao estado de
vulnerabilidade tão logo esta pessoa se afaste ou ela perca a
conexão. Há uma precariedade na conexão vincular que se torna
inconstante e frágil.
O
Desamparo
Há
uma relação significativa entre o Pânico e as crises de ansiedade
disparadas pelas situações de separação na infância. Uma boa
parte das pessoas que desenvolvem Transtorno do Pânico não
conseguiu construir uma referência interna do outro (inicialmente a
mãe) que lhe propiciasse segurança e estabilidade emocional. Esta
falta de confiança pode trazer, em momentos críticos, vivências
profundas de desconexão e desamparo, disparando crises de pânico.
A
experiência do Pânico é muito próxima do desespero atávico de
uma criança pequena que se sente sozinha, uma experiência limite de
sofrimento intenso, de sentir-se exposta ao devir, frágil,
desprotegida, sob o risco do aniquilamento e da morte.
As
pessoas com Pânico sofrem com uma falta de conexão básica, falta
de conexão e confiança nos vínculos e falta de conexão e
confiança no corpo, o que leva a uma vivência de insegurança, com
sentimentos de fragilidade, vulnerabilidade e desamparo.
TRATAMENTO
Objetivos
Principais
Há
algumas diretrizes importantes para o tratamento da Síndrome do
Pânico:
1
– Etapa Educativa: compreender o que é o Pânico, assumindo a
atitude certa para lidar com a ansiedade e as crises.
Os
sintomas do pânico são intoleráveis enquanto não compreendidos. A
crise de pânico é um estado de intensa ansiedade, na qual o corpo
da pessoa reage como se estivesse sob uma forte ameaça. Compreender
este processo é fundamental para a sua superação. Nesta etapa
vamos aprender o que é a ansiedade, o que ocorre numa crise de
pânico, o papel do curto-circuito emoção-corpo-pensamento na
manutenção do pânico, os processos de auto-regulação, de
regulação pelo vínculo, etc.
A
compreensão do Transtorno Pânico e dos Princípios do Tratamento
favorece uma atitude construtiva e participativa, assim como o
estabelecimento de uma aliança terapêutica para se desenvolver um
bom trabalho.
2
– Auto-gerenciamento: desenvolvendo a capacidade de regulação
emocional.
A
pessoa com pânico precisa desenvolver uma melhor capacidade de
regulação emocional, aprendendo a influenciar seu estado emocional,
regulando o nível de ansiedade, diminuindo assim o sentimento de
vulnerabilidade e a incidência de novas crises.
Este
processo é possível pelo aprendizado de técnicas de
auto-gerenciamento. Utilizamos um amplo repertório de técnicas de
auto-gerenciamento que incluem trabalhos respiratórios, técnicas de
direcionamento da atenção, fortalecimento da capacidade de
concentração, técnicas visuais variadas (convergência binocular
focal, percepção de campo etc), reorganização da forma somática
através do Método dos Cinco Passos, técnicas de relaxamento etc.
Estas
técnicas de auto-gerenciamento ensinam à pessoa como influir sobre
os seus estados internos, desenvolvendo a capacidade de
auto-regulação.
Através
do manejo voluntário dos padrões somático-emocionais que mantém o
estado de pânico pré-organizado – a arquitetura da ansiedade –
podemos reorganizar e transformar estes padrões que mantém o
gatilho do pânico armado, pronto para disparar novas crises.
Estas
técnicas têm uma forte eficácia ao influenciar, por ação
reversa, os centros cerebrais que desencadeiam as respostas de
pânico, diminuindo o nível de ansiedade e a intensidade das crises.
3
– Aumentar a tolerância à excitação interna.
A
pessoa com pânico tende a interpretar as reações de seu corpo, que
fazem parte do estado ansioso, como se fossem sinais catastróficos,
indicadores de um possível perigo, como um desmaio, um ataque
cardíaco iminente, sinal de perda de controle, etc. É necessário
enfraquecer esta associação automática onde a presença de algumas
sensações corporais disparam uma reação automática de ansiedade,
a se inicia o processo que leva ao pânico.
Para
ajudar no enfraquecimento desta associação corpo-perigo e aumentar
a tolerância ao que é sentido, utilizamos dois caminhos básicos.
(1)
Técnicas de desensibilização, onde utilizamos exercícios de
exposição gradual às sensações corporais temidas, processo
denominado “exposição interoceptiva”.
(2)
Técnicas de auto-observação, com atenção dirigida às reações
da ansiedade e criação de um diálogo com as mensagens emocionais
não ouvidas que o corpo está expressando.
Estes
recursos ajudam a aumentar a tolerância à excitação interna e na
familiarização com as reações do corpo, as emoções e
sentimentos. É importante a pessoa ensinar ao seu cérebro como as
sensações corporais não são perigosas, e como a ansiedade é
apenas uma emoção que expressa uma expectativa de perigo, mas não
é perigosa em si.
4
– Desenvolver um “eu observador”, permitindo diferenciar-se dos
pensamentos ansiosos.
Sob
estado de ansiedade a pessoa é inundada de distorções cognitivas,
com pensamentos que se projetam no futuro esperando pelo pior e
interpretando as sensações em seu corpo como sinais de perigo
iminente.
É
importante trabalhar no desenvolvimento da capacidade de
auto-observação identificando e diferenciando-se dos pensamentos
catastróficos que derivam da ansiedade e contribuem para se criar
mais ansiedade.
Neste
processo a pessoa aprende a observar e reconhecer seus padrões de
pensamentos e suas expectativas catastróficas sem ser dominada por
eles. Aprende a ancorar o ego no “eu que observa” e não no
tumultuoso “eu que pensa”.
É
importante também desenvolver a capacidade focalizar a atenção
como estratégia para se diminuir a ansiedade. Quando a pessoa
consegue criar presença e focar sua atenção, a ansiedade diminui
significativamente. Para atingir estes objetivos, utilizamos várias
técnicas de auto-observação e fortalecimento da capacidade de
direcionamento da atenção.
5
– Desenvolver a capacidade de regulação emocional através dos
vínculos.
Além
da capacidade de auto-regulação é importante fortalecer a
capacidade de se regular pelos vínculos, o que envolve desenvolver a
capacidade de estabelecer e sustentar conexões profundas e vínculos
de confiança. Este processo vai permitir que a pessoa supere o
desamparo que a mantém vulnerável às crises de Pânico.
Neste
processo revemos a história de vida de relacionamentos, incluindo os
traumas emocionais que possam ter comprometido a confiança e
potência vincular. Buscamos ajudar na reorganização dos padrões
vinculares em direção a relações mais estáveis que possam
permitir criar uma rede de vínculos e conexões mais previsíveis,
essenciais para a proteção das crises de Pânico.
6
– Elaborar outros processos psicológicos atuantes
É
importante mapear os fatores que estavam presentes quando a Síndrome
do Pânico começou e que podem ter contribuído para a eclosão das
crises.
Neste
contexto podem estar presentes ambientes e eventos estressantes,
assim como crises existenciais, crises em relacionamentos, crises
profissionais e transições, como mudanças de fases da vida, por
exemplo. A desestabilização emocional trazida por estes eventos
poderia produzir estados internos de fragilidade e vulnerabilidade,
responsáveis pela eclosão das primeiras crises de pânico.
Num
nível mais profundo buscamos investigar e trabalhar as memórias de
experiências de vulnerabilidade e traumas que poderiam estar se
reeditando nas experiências atuais de pânico. Do mesmo modo é
importante rever os padrões de relacionamento com mãe/pai na
infância, pois padrões ansiosos e ambivalentes de vínculo podem
ter uma forte influência sobre o aparecimento e manutenção de
transtornos de ansiedade na vida adulta.
Os
melhores resultados são obtidos por um tratamento que contemple
todos estes objetivos: a compreensão do processo do pânico, o
desenvolvimento da capacidade de auto-regulação, o aumento da
tolerância à excitação interna, o desenvolvimento do eu que
observa, o desenvolvimento da capacidade de regulação pelo vínculo
e a elaboração dos processos de vida que levaram ao Pânico.
Uma
combinação destes objetivos é a melhor solução para um
tratamento eficaz da Síndrome do Pânico.
Sobre
a Medicação
Os
remédios podem ser recursos auxiliares importantes para o controle
das crises de pânico, trabalhando conjuntamente com a psicoterapia
para ajudar na superação da Síndrome do Pânico.
Porém,
há algumas ponderações sobre a sua utilização . Primeiro, é
necessário ter claro que os remédios não ensinam. Eles não
ensinam à pessoa como ela própria pode influenciar seus estados
internos e assim a superar o sentimento de impotência que o pânico
traz. Não ensinam a pessoa a compreender os sentimentos e
experiências que desencadeiam as crises de pânico. E não ajudam a
pessoa a perder o medo das reações de seu corpo e a ganhar uma
compreensão mais profunda de seus sentimentos. Os remédios –
quando utilizados – devem ser vistos como auxiliares do tratamento
psicológico.
Algumas
pessoas optam por um tratamento conjugado de medicação e
psicoterapia enquanto outras optam por tratar o pânico somente com
uma psicoterapia especializada. Na psicoterapia especializada
utilizamos técnicas de auto-gerenciamento – para manejar os níveis
de ansiedade e controlar as crises – e ao mesmo tempo trabalhamos
as questões psicológicas envolvidas. A opção mais precária seria
tratar o pânico somente com medicação, visto que o índice de
recaídas é maior quando há somente tratamento medicamentoso do que
quando há também um tratamento psicológico. Os remédios mal
administrados podem acabar mascarando por anos o sofrimento ao invés
de ajudar a pessoa a superá-lo.
Atualmente
é possível tratar a pessoa com Síndrome de Pânico sem a
utilização de medicação e temos obtido bons resultados tanto com
pessoas que estão paralelamente tomando medicação como com aquelas
que preferem não tomar remédios.
Melhora:
Um Horizonte Possível
Para
uma pessoa ficar boa do Pânico não basta controlar as crises, é
necessário integrar as sensações e sentimentos que estavam
disparando as crises e assim superar o estado interno de fragilidade
e desamparo.
A
melhora advém quando a pessoa torna-se capaz de sentir-se
identificada com seu corpo, capaz de influenciar seus estados
internos, sentindo-se conectada com os outros à sua volta, podendo
lidar com os sentimentos internos, se reconectando com os fatores
internos que a precipitaram no Pânico e podendo lidar com eles de um
modo mais satisfatório.
Superar
a experiência da Transtorno de Pânico pode ser uma grande
oportunidade de crescimento pessoal, de uma retomada vital e
contemporânea do processo psicológico de vida de cada um.
Artur
T. Scarpato – Psicologia Clínica – CRP 06/42113
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